RECADO AOS CIENTISTAS
Ó formidável civilização
Forjada pelos gênios da Ciência!
Que pena eu ser assim tão paspalhão,
Quase chegando à beira da demência!...
Sobrevivente sou de esquisitices
Hoje por todos desmoralizadas...
Cultivo mitos, sonhos e crendices
Que fazem rir elites avançadas...
Prossigo, por exemplo, amando o vento,
As fontes borbulhantes, o luar,
Meu Tapajós quieto ou turbulento,
As aves coloridas a cantar!
Alvoradas alegres... Os ocasos!
Tristonhos sempre, como todo adeus...
Plantas queridas nos quintais ou vasos
- Eis uns dos tolos regozijos meus.
O mundo modernoso, então, gargalha
De anacronismos vis do sonhador...
Coisas assim o técnico estraçalha
Nos milagres de um só computador!
Os deuses cientistas não carecem
Do Deus que ERA Todo-Poderoso...
Os carolas que rezam já se esquecem
Dos prodígios que tanto lhes dão gozo?
A água sai da torneira, a luz de um fio...
As flores são do plástico da moda...
Aparelhos fabricam vento frio...
Tanto progresso as multidões açoda!...
E os homens vão perdendo suas raízes...
Ar puro e paz já não encontram mais...
A propaganda traz aos infelizes
Necessidades artificiais!
As consequências trágicas explodem
Nos suicídios, delitos e pecados!
Todos desejam, mas bem poucos podem,
Ser confortavelmente desgraçados!
Toma juízo, ó Homem leviano!
Vê na Ciência o que a Ciência é:
Jamais um fim, mas meio soberano
Para nas almas sustentar a Fé!
Inchados de vaidade, os tais doutores
Incorrem na fatal desfaçatez
De não render justíssimos louvores
Ao Criador que a todos eles fez!
Esperai, sumidades, e vereis
Desabar toda a sapiência vossa!
Do Deus que, cegos, não reconheceis,
Impunemente nunca se faz troça!...
Emir Bemerguy, 15/05/1975.
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