HISTÓRIA DE COBRA GRANDE
Foi numa noite formosa,
Ante uma brisa gostosa,
Sob um luar de verão.
Formada a roda na praia,
Fazia-se a piracaia,
Tocava-se violão.
Em meio à banal conversa,
Inconsequente, dispersa,
De repente alguém falou
Na COBRA GRANDE da lenda,
Nessa BOIÚNA tremenda
Que a tantos já apavorou!
Disse um: “Não acredito
Nessa história, nesse mito;
Não sou criança medrosa.”
- “Pois olhe, Zé: fique certo
De que já vi bem de perto
Essa Cobra pavorosa.”
Falava assim um mulato,
Leal,mas rude no trato,
Caladão, introvertido.
E ante a geral insistência,
Foi narrando, com paciência,
O que tinha acontecido.
Viajando em sua canoa,
Sentado, só, bem na proa,
Numa noite de luar,
Viu duas luzes: com certeza,
Vindo contra a
correnteza,
Algo estava pra chegar.
Pensando logo na Cobra,
Busca o barranco e manobra
Pra embarcação proteger.
Então, de lugar seguro,
Ficou vendo ali do escuro
O que iria acontecer.
Ela chegou meio perto,
Andando de modo incerto
Devagar, com precaução.
Mas as ondas que surgiam
Nas águas, mais pareciam
A zanga de um furacão!
Os seus olhos projetavam
Tanta luz que iluminavam
Até longe, com fulgor
E sua respiração
Dava-me toda a impressão
De uma caldeira a vapor!
Saindo da boca enorme,
Cada presa desconforme
Como nem sei se tu crês!
Sua forma é parecida
- Eu juro por minha vida! –
Com os chifres de uma rês.
Já vinha raiando o dia,
Mas o monstro não saía
Do lugar onde se achava.
Só pra banda das seis horas,
Foi devagar para fora,
Como um navio que largava.
Somente naquele instante
Eu pude ver, ofegante,
O tamanho do animal:
Quarenta metros, sustento,
Que tinha de comprimento!
Nunca mais vi coisa igual!”
Indagado se sentira
Medo da Cobra que vira,
O caboclo não mentiu:
“Só não morri de pavor,
De sofrimento e tremor,
Porque Deus não permitiu!”
27/09/1966.
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