Papai fez algumas poesias pela época do Natal. Essa, escrita há 37 anos, na véspera do Natal de 1975, continua cada vez mais atual...
Natal Moderno
"O Natal deixou de ser uma festa para ser um orçamento" (Nelson Rodrigues)
Senhor, meu Deus! É tempo de Natal!...
E do que vês, Jesus, eu creio que Te enojas:
Esse nervoso e fútil festival
De correrias através das lojas!
Falam todos de paz...
Como seria realmente lindo
Se desses palavróvrios por detrás
Não houvesse maldades desmentindo
Cada promessa meiga que se faz!...
E eu sofro, ó Deus- Menino, a angústia que me invade
A Festa máxima da Cristandade:
Só mesa farta, embrulhos e bebida!...
E se maldiz o pobre
Porque não tem dinheiro para os desperdícios
Com que o insulta, arrogante, o seu vizinho nobre...
É isto: o homem cria precipícios, Complica as coisas simples, muda em mal o bem.
Não se procura mais a velha estrela-guia
Que os corações conduz à gruta de Belém!
Natal cada vez mais é farra, férias - freguesia!
Busca-se o antigo "espírito cristão"
No bulício de tantas ruas sedutoras,
Mas tudo principia e acaba num balcão,
No metralhar contínuo das registradoras!...
Para quem ama e crê, a coisa é tão brutal
Que se vara, chorando, mais outro Natal!...
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