O MACACO E O COCO
“As coisas que
juntaste, para quem serão? Assim acontece com o homem que entesoura para si
mesmo e não é rico para Deus.” - Lucas 12,20-21
Conta-se que em algumas ilhas da Indonésia existe uma
espécie ele macaquinhos particularmente dóceis e brincalhões. Os nativos descobriram
uma engenhosa forma de capturá-los com facilidade, sem maltratar os simpáticos
bichinhos.
Apanham um coco, descascam-no e fazem nele um buraco suficiente
para passar a mão vazia do símio. Lá dentro colocam uma pedra pequena e deixam
a isca no local onde mora a macacada. Não demora muito, lá vem o curioso
animal: apanha o coco, olha através do orifício e vê o objeto que puseram ali.
Sem perder tempo segura a pedrinha com firmeza. Logo aparecem os caçadores para
o simples trabalho de agarrar o pequeno palerma. Ele fechou a mãozinha com a
pedra, não consegue mais retirá-la porque já não passa pelo buraco, mas... não
larga o seu tesouro!
Quando eu soube da história acima, pensei nas pessoas tão
apegadas aos bens mundanos. Sei, por exemplo, de uma senhora que viajava num
daqueles navios brasileiros, torpedeados pelos alemães durante a Segunda Guerra
Mundial. Sobreviventes revelaram que a madame já estava salva naquele horror
indescritível do naufrágio noturno em alto mar. Lembrou-se, todavia, das jóias
que deixara no camarote. Apesar das advertências, voltou para apanhá-las. Mas a
embarcação inclinou-se de tal modo que a imprudente Eva não mais conseguiu sair
da cabine, morrendo lá dentro. Certamente agarrada ao seu tesouro, como os
macaquinhos indonésios.
Somos uns completos idiotas - surdos, cegos e nus, como diz
o Apocalipse. O convite para entesourarmos no Céu, praticando boas obras,
repartindo talentos e fortunas, é aceito e vivido por minorias, “o pequeno
rebanho” a que se referiu Jesus. O grosso da humanidade sacrifica saúde, honra
e a própria vida para amontoar ouro, para ter sempre mais dinheiro. O diabo se
encarrega de cegá-los para a terrível realidade: morrerão, e tudo, tudo ficará
para os sorridentes herdeiros! Por isso, disse o gaiato que os testamentos não
deveriam começar com a expressão “deixo para Fulano”, mas “sou obrigado a
deixar...”
Liberta-nos, Senhor, dessa escravidão ao dinheiro, a raiz de
todos os males, como ensina São Paulo! Faze-nos buscar o teu Reino e a tua
justiça para merecermos os acréscimos! Amém.
(Emir Bemerguy – “Sementes para Passarinhos - Meditações” – 1975)
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