FICARÁS
Tens de partir!... Por longe que tu estejas,
Hei de te ver a todo instante aqui,
Rezarei por tua volta nas igrejas,
E uma saudade ficará de ti!...
Tu ficarás no ciciar da aragem,
Nas estrelas piscando, intermitentes...
Ficarás no sussurro da folhagem,
Na presença esquisita dos ausentes...
Ficarás nos queixumes que, à tardinha,
Soluçam jurutis e sabiás...
Nas manchas do arrebol que se avizinha,
Nas noites de luar tu ficarás!...
Ficarás nos matizes singulares
Do colibri, da flor, da borboleta,
No milagre dos tons crepusculares,
Com nitidez verei tua silhueta.
No silêncio letal das madrugadas,
Quando mais punge a dor da solitude,
Insone, lembrarei cenas passadas,
Chorando um bem que conservar não pude.
Mas ficarás aqui, mulher querida,
Amenizando atroz desolação:
Ficarás no infortúnio de uma vida,
Na saudade mortal de um coração!...
(Emir Bemerguy - 30/04/1967)
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