- Apareceu em Santarém um cabuco desses lá do Brasir, que
chega nos navio do Lóide. Dizque era namurador como o cão e ouviu dizer que
ulho de buto é muito pai-d'égua pra arrumar mulher.
- Isso eu garanto -
proclama Carrapato. Nos meus tempo de rapaz sorteiro, eu andava com eles nos borso da carça e fazia
miséria com a mulherada, seus menino! Eu nem gosto de me alembrar, que me dá
vontade de chorar.
- Mas deixa eu acabar, pitomba! - exclama Potoca,
impaciente. O cuirão do macho mulherengo percurou arguém que vendia ulho de
buto e comprou um, nuvinho em folha. Enfiou a praga no borso da carça, mas as
coisa começaram a ficar insquisita pras banda dele.
- Por quê? - indaga
Caraxué, sorrindo. Ele teve encrenca com marido de mulher casada?
- Que nada!
Diz Potoca. Era até mais melhor que fosse isso. O garanhão deu foi pra falar
fino, piscar pra homem e andar rebolando a bunda, feito fêmea! E só bigududo se
engraçava dele!
- Na cidade tem muita judiação - filosofa Totonho. Eu tô
mardando que fizeram argum feitiço pro desinfeliz.
-Tu quer adivinhar, mas tu
não acertou! - zomba, vitorioso, o imaginativo narrador. Dispôs de sufrer o
diabo, o bunitão acabou descobrindo o que tinham vendido pra ele era ulho de
buta!... O cabuco, avacalhado, sumiu da cidade e nem cachurro de faro fino
sabia onde ele se enfiou.
Gargalhadas estouram, sobretudo porque o crioulo sai andando
a balançar as nádegas e a falar fino, como o herói da história. Mané Carrapato,
meio bêbado, rola no chão, rindo, e Zé Potoca se baba de gozo com o triunfo
quando Presidente os convoca:
- Ei, seus cuirão! Vumbora que a bóia tá pronta,
tinindo!
E lá se vão todos, ainda se contorcendo de rir. Agora, em volta do
moquém, se empenharão numa valente disputa de apetites. A carne suculenta e
aromática, a farinha torrada, a jiquitaia especial e o limãozinho com cachaça à
vontade farão milagres. Vão atirar efêmeros, mas merecidos dulçores sobre essas
vidas intragavelmente amargas durante a maior parte do ano.
(Emir Bemerguy - "Maromba" - 1975)
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