segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Carta aos Amigos

O texto abaixo, intitulado "Carta Aberta aos Amigos", foi publicado no blog do Jeso por minha irmã Lila Bemerguy, em agradecimento às manifestações de carinho que recebemos quando da morte de nosso pai. Logo abaixo, a manifestação, após ler este texto, de uma amiga de nossa irmã Lourdinha (Cucá), que mora em Florianópolis, e nunca conheceu papai pessoalmente.

Nesta segunda-feira, 19, fará uma semana da morte de nosso pai, Emir. Nosso, porque falo em nome de meus irmãos e minha mãe. A filha Márcia já fez esses agradecimentos na igreja, mas fazemos questão de registrá-los aqui.

Durante esses dias, foram incontáveis os sentimentos de solidariedade que recebemos, principalmente nossa mãe, Berenice, que do alto de seus 80 anos, sofre a perda do seu poeta, marido, amor, companheiro de 53 anos de vida. Agradecemos imensamente a todos.

Nos dias que antecederam a morte do poeta, algumas pessoas foram, como disse minha mãe, “anjos”, que ajudaram de toda forma. O médico e amigo Erik Jennings, que há muitos anos atendia meu pai com todo carinho, paciência, como faria um filho.

Por conta de sua vida ocupada, pediu que tivéssemos outra referência médica. Levamos papai ao Dr. Luis Rodolfo Carneiro Filho, meu amigo de infância, que o atendeu. Nos últimos dias, nunca, em nenhum momento, nos deixou de dar esperanças, sempre presente, preocupado e amigo. Ao vê-lo, papai dizia: “O filho do meu amigão”, referindo-se ao pai do Luisinho, Luis Rodolfo Carneiro.

No hospital da Unimed, tivemos a felicidade de encontrar nas horas mais difíceis, o Dr. Fábio Botelho, que nos aconselhou e abraçou como um amigo. Os enfermeiros Hiago e Bruno, que passaram noites insones cuidando de papai, com amor de filhos. Toda equipe de enfermagem do hospital da Unimed, na pessoa da enfermeira Erlinda, que dedicaram carinho e atenção até o fim.

Carlos Eduardo, o “Dadinho”, e o gerente do hospital Unimed, Paulo, que sabem o quanto nos ajudaram. Junior Santos e Inês Miléo, amigos que nos ajudaram com providências após a morte, tão difíceis de serem tomadas no calor da emoção pela partida. A prefeita Maria do Carmo e o prefeito eleito Alexandre Von, que nesse momento esqueceram partidos e política, e se uniram na dor da perda de alguém muito querido para ambos. O padre Sidney Canto, que deu os últimos sacramentos ao meu pai, confortando-o em sua fé.

A todos os amigos, parentes, colegas da imprensa, que nos abraçaram e confortaram. A dor é imensa, pois como disse meu irmão Lúcio, a cidade perde o poeta, o escritor. Nós perdemos o pai, que nas horas limites de nossas vidas, nos apertava a mão, muitas vezes sem nada dizer, passando-nos segurança e fortaleza. O mais difícil da morte, acredito, como disse meu pai numa poesia, é “a presença esquisita dos ausentes”.

Continuamos a ver suas coisas, suas roupas, objetos, escritos, fotografias, sem a presença dele. Somente a lembrança, saudade e a certeza de que a vida vale a pena. Numa de suas pastas com coleções de textos e fragmentos de leitura que ele mais gostava, disse: “Passei 40 anos coletando esses fragmentos. A eternidade vai dizer se perdi meu tempo ou se valeu a pena”. E como valeu, pai!

Nesta semana, olhando algumas coisas deixadas por nosso pai, como escritos, pastas, CDs, fitas-cassete, nos demos conta daquilo que já sabíamos, mas nunca tivemos a chance de conhecer mais profundamente, pois a maior parte disso ele guardava, como dizia, “para a posteridade”: é riquíssima e vasta sua obra! Cada linha, cada verso, é a maior e mais linda herança que esse pai deixa aos seus filhos e à cidade que tanto amou.

Segue em paz, poeta. Aqui ficaremos nós, cuidando dos teus versos e da tua Berenice. 

(Lila Bemerguy)



Tirei um tempo para escutar com os olhos e enxergar com o coração a sabedoria traduzida em palavras reveladoras da ação deste ser humano de rara e singular beleza!
É verdade que nunca o vi e lamentavelmente não tive a grata benção e oportunidade de conhecê-lo.
Contudo, é como se o conhecesse, tamanha profundidade contida nesse conjunto de palavras tão sabiamente compostas, as quais, associadas ao teu amor revelado a nós em gestos e expressões de afeto com as quais sempre o trouxeste ao nosso meio, me leva agora às lágrimas! Estou profundamente emocionada e de modo muito especial pela última frase registrada no texto de uma filha profundamente agradecida! Lila! Que lindo! Tocou meu coração!
Comoveu-me de tal modo que parecia ouvi-la! Não é mesmo surpreendente!?!
Minha sensibilidade me diz que este momento foi único, absolutamente abençoado por Deus, fazendo reverberar em todo o céu que alcança o infinito, o agradecimento do Seu Emir! Poderia sim e mereceria chamá-lo de doutor, a exemplo do mais alto título acadêmico e este eu conheço! Todavia, escolherei a palavra Mestre! Sim, este ser humano de rara beleza será para sempre um MESTRE! Daqui da ilha de nossa bela e Santa Catarina, em plena primavera, Seu Emir tem admiradores e admiradoras que esperam e desejam ver algum dia, e que não demore, todo esse legado deixado para a posteridade!
 Obrigada, querida irmã de alma! Agradeça a esta linda e grandiosa família por compartilhar a vida, a obra e o amor de um Mestre com um afeto que não se encerra!
 Finalizo tomando por empréstimo as palavras de João Guimarães Rosa, da obra Grande Sertão Veredas: Mestre não é quem ensina, mas quem de repente, aprende! Até o final de sua vida, Seu Emir ensinou que é sempre tempo de aprender! Como educadora que sou creio e professo essa certeza, que se confirma e se eterniza no mais lindo sentido da experiência de vida de uma pessoa como esta! Então, se me permite: ao Nosso Mestre, com Carinho e gratidão!
 Com todo carinho,
Maria Conceição - Cuca

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