segunda-feira, 8 de abril de 2013

Santarém Namoradeira


SANTARÉM NAMORADEIRA

(Prosa poética)

Escuta, ó Santarém:
Sabes que gosto de ti às pampas,
 Mas, às vezes, por isso mesmo,
Eu me zango contigo.
Falo desses teus amores, fáceis e descarados,
Com os dois janotas - AMAZONAS e TAPAJÓS
Que, em doida correria, acima e abaixo,
Vivem a dividir, aos empurrões e aos tapas,
As tuas inconstantes preferências!

Mas que vexame! Isso é feio, moça!
Não fica nada bem a uma filha de família,
E, sobretudo, a uma Princesa como tu!
Daí, a descompostura que te passo agora.
Pareces uma daquelas caboclas de subúrbio,
Bonitinhas, mas sem-vergonhas,
Que borboleteiam de braço em braço,
Não se decidindo por ninguém.

Explico-me:
Se passo, de manhã, lá no Caisinho,
Eu te vejo agradando,
Muito dengosa e sem termo,
A cara antipática e encardida
Do grandalhão AMAZONAS
Que, todo prosa, gargalha, dá cambalhotas,
E acaba rebentando as ventas na areia branca!

Volto, à tarde, e morro de vergonha:
Namoras cinicamente em plena praia
(E que despudorada mini-saia!),
De mãos dadas com o gostosão gabola
- Esse transviado TAPAJÓS
Que escandaliza todo mundo,
Enlaçando-te a cintura
Em meio a um turbilhão de beijos espumantes!

Muito bonito, hein?
E o pior deixei para contar agora:
Quando vem a noite de enluarada claridade,
Esqueces, de repente,
Os dois conquistadores baratos,
E ficas no maior agarramento... COMIGO!
Sim, comigo,
Este teu feio, ciumento e conformado amante,
Que, olhando a Lua,
Não se cansa de te reafirmar
Uma velha, fiel e crescente afeição,
Dizendo-te, ao planger nostálgico de um violão,
Doces banalidades e confidências meigas,

Segredos apaixonados que tu, entretanto,
Logo de manhãzinha,
Por entre risos zombeteiros
E com os cabelos desfeitos pelos ventos da aurora,
Vais levianamente revelar
Ao cretino AMAZONAS!
E tudo recomeça...
É bom que tomes juízo,
Ó minha travessa e formosa Santarém,
Porque se um dia,
Fartos de tanta volubilidade,
Resolvermos nós, os teus três chifrudos noivos,
Te deixar só,
Acabarás ficando mesmo em triste caritó!...

Emir Bemerguy, 05/12/1970.

Nenhum comentário:

Postar um comentário