domingo, 30 de dezembro de 2012

O macaco e o coco



O MACACO E O COCO

“As coisas que juntaste, para quem serão? Assim acontece com o homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus.” - Lucas 12,20-21

Conta-se que em algumas ilhas da Indonésia existe uma espécie ele macaquinhos particularmente dóceis e brincalhões. Os nativos descobriram uma engenhosa forma de capturá-los com facilidade, sem maltratar os simpáticos bichinhos.­
Apanham um coco, descascam-no e fazem nele um buraco suficiente para passar a mão vazia do símio. Lá dentro colocam uma pedra pequena e deixam a isca no local onde mora a macacada. Não demora muito, lá vem o curioso animal: apanha o coco, olha através do orifício e vê o objeto que puseram ali. Sem perder tempo segura a pedrinha com firmeza. Logo aparecem os caçadores para o simples trabalho de agarrar o pequeno palerma. Ele fechou a mãozinha com a pedra, não consegue mais retirá-la porque já não passa pelo buraco, mas... não larga o seu tesouro!
Quando eu soube da história acima, pensei nas pessoas tão apegadas aos bens mundanos. Sei, por exemplo, de uma senhora que viajava num daqueles navios brasileiros, torpedeados pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Sobreviventes revelaram que a madame já estava salva naquele horror indescritível do naufrágio noturno em alto mar. Lembrou-se, todavia, das jóias que deixara no camarote. Apesar das advertências, voltou para apanhá-las. Mas a embarcação inclinou-se de tal modo que a imprudente Eva não mais conseguiu sair da cabine, morrendo lá dentro. Certamente agarrada ao seu tesouro, como os macaquinhos indonésios.
Somos uns completos idiotas - surdos, cegos e nus, como diz o Apocalipse. O convite para entesourarmos no Céu, praticando boas obras, repartindo talentos e fortunas, é aceito e vivido por minorias, “o pequeno rebanho” a que se referiu Jesus. O grosso da humanidade sacrifica saúde, honra e a própria vida para amontoar ouro, para ter sempre mais dinheiro. O diabo se encarrega de cegá-los para a terrível realidade: morrerão, e tudo, tudo ficará para os sorridentes herdeiros! Por isso, disse o gaiato que os testamentos não deveriam começar com a expressão “deixo para Fulano”, mas “sou obrigado a deixar...”
Liberta-nos, Senhor, dessa escravidão ao dinheiro, a raiz de todos os males, como ensina São Paulo! Faze-nos buscar o teu Reino e a tua justiça para merecermos os acréscimos! Amém.

(Emir Bemerguy – “Sementes para Passarinhos - Meditações” – 1975)

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