sábado, 29 de dezembro de 2012

A lição do araçazeiro deitado



A LIÇÃO DO ARAÇAZEIRO DEITADO

“Eu sou a Videira, vós sois os ramos. Aquele que permanece em Mim e Eu nele, produz muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer.” - João 15,5

Hoje eu tive ocasião de meditar sobre esta passagem evangélica, e o fiz dentro de minha canoa, durante uma pescaria. Foi assim.
Eu passava por uma área do litoral da cidade quando tive a atenção despertada por um frondoso araçazeiro que, aliás, me era algo familiar, pois já o vira outras vezes. Nunca, entretanto, o havia observado bem de perto.
Fiquei surpreso ante a excepcional quantidade dos frutinhos que desabrochavam em todos os galhos. Percebi, então, o prodígio: aquela árvore tão viçosa estava deitada, caída, no chão!... Fiz um emocionado exame em seu caule e verifiquei o seguinte: o vegetal desabara, um dia, mas uns fragmentos de suas raízes ficaram presos ao solo. Desses restinhos de vida, a planta se nutrira, novas raízes foram surgindo e eu desfrutava, no banco da montaria, de um espetáculo fantástico.­
Logo fiz a fácil e evidente analogia: as palavras de Jesus me vieram à mente - Videira e ramos. E enquanto a canoa descia, de bubuia, no meu Tapajós azul, eu pensava na vida...
Aquele pé de araçá tinha sobrevivido galhardamente porque não se interrompera sua união com a mãe-terra. Era unicamente por isso que, mesmo prostrado, em posição horizontal muito desconfortável, emitia galhos para o alto e frutificava abundantemente, dando um “show” de exuberância e fartura. Houvesse, porém, ocorrido o rompimento com o solo, em pouco tempo a bela planta estaria seca, irremediavelmente morta.­
Pensei nos doentes, nos sofredores, em nossas cruzes diárias... Senti, mais uma vez, a eterna atualidade do Evangelho de Jesus. Unidos a ele, sempre, sempre estaremos produzindo frutos. Mesmo num leito de dores, ainda que tudo pareça negro e perdido, se persistir a vinculação do galho com a Videira, o testemunho será impressionante. Os homens ficarão deslumbrados ante a grandeza do mártir, ante a valentia espiritual de um corpo em ruínas. Os crentes sentirão sua fé revigorada. Os ímpios se abalarão, começando a crer.­­
Que magnífico e extraordinário araçazeiro!... Aquela árvore deveria virar estátua pelo sublime estímulo que fornece a quantos “têm olhos para ver e ouvidos para ouvir”.­

(Emir Bemerguy – “Sementes para Passarinhos - Meditações” – 1975)

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