AQUARELA MOCORONGA
Ó grácil Santarém das aquarelas,
Predileto modelo de pintores!
Tens tanta luz nas alvoradas belas!
Que desperdício singular de cores!
Ó Santarém bonita dos luares
Propícios aos queixumes dos violões,
Quando boêmios cantam seus pesares,
Enternecendo amantes corações!
Ó verde Santarém dessas florestas
Que nunca mais se acaba de varar!
Dos vaga-lumes o luzeiro emprestas
Para os vergéis, à noite, iluminar.
Ó Santarém festiva das fogueiras
Tradicionais, de tarubá e canjica,
Compadres e comadres - brincadeiras
Onde a alegria intensa pontifica!
Ó triste Santarém dos dias chuvosos,
Das catadupas que nos manda o céu,
Quando emudecem pássaros, medrosos,
Para escutar das águas o escarcéu!
Ó Santarém piedosa dos rosários,
Das procissões, novenas, penitências!
Tu tens capelas, templos, santuários
Onde invocas de Deus as indulgências.
Ó sábia Santarém dos beletristas,
Compositores, músicos, poetas!
És permanente inspiração de artistas,
Tema fecundo de canções seletas.
Ó Santarém ingênua das puçangas,
Orações fortes, chás e benzeduras!
Delas ninguém duvide, pois te zangas
E esse gaiato incrédulo esconjuras...
Ó Santarém gostosa das peixadas
Monumentais que a gente saboreia
Na pá do remo, em noites estreladas,
Tendo por mesa o infindo chão de areia!...
Ó minha Santarém, tu me apaixonas!
Que maravilha fico eu vendo, a sós:
O beijo amorenado do Amazonas
Na face verde-azul do Tapajós!...
Emir Bemerguy, 05/03/1967.
Nenhum comentário:
Postar um comentário